Gramsci no império
Daniela Mussi
O desembarque
Os primeiros traços da presença editorial de Antonio Gramsci na cultura anglófona datam de duas décadas depois de sua morte, com a publicação na Inglaterra e nos Estados Unidos, em 1957, de duas antologias temáticas de seus escritos: The modern prince and other writings e The open marxism of Antonio Gramsci (Mins, 1958, p.283). A primeira foi organizada e traduzida por Louis Marks a partir da edição italiana Note sul Machiavelli, sulla politica e sullo Stato moderno (1949), com a inclusão das notas gramscianas sobre a questão meridional do ensaio inacabado de 1926 e uma seleção de artigos pré-carcerários, então chamados por “escritos políticos”. A segunda consistiu em uma tradução comentada de Carl Marzani, com seleção de parágrafos do volume das notas sobre Maquiavel e de outro volume temático dos escritos carcerários, Il materialismo histórico e la filosofia de Benedetto Croce (1948).
As resenhas publicadas em seguida a estas duas publicações em inglês evidenciam o tom da primeira recepção dos escritos gramscianos neste ambiente. Logo em seguida à publicação, em fins de 1957, duas resenhas para The modern prince publicadas nas revistas marxistas inglesas Marxism Today e The labour monthly, anunciaram a novidade de Gramsci, que chamaram por “o primeiro marxista italiano”, que morrera aprisionado por ser temido pelos fascistas (Thomson, 1957, p.61; Robertson, 1957, p.571). Os resenhistas não deixavam de mencionar os vínculos de Gramsci com a política de Palmiro Togliatti (que continuara a carregar “o fardo” da liderança política depois da morte do primeiro em 1937) adiante do Partido Comunista Italiano, e os escritos carcerários como um modelo a ser seguido para compreensão da história e política inglesa para a construção de um partido de massas semelhante ao italiano. A resenha de George Thomson para a inglesa Marxism Today, mais longa, era também mais criativa: afirmava a afinidade eletiva de Gramsci com a revolução cultural de Mao-Tse-Tung na China, e seus escritos como um modelo possível para a elaboração da “via britânica para o socialismo” (Thomson, 1957, p.61-62).
Pouco tempo depois, no verão novaiorquino de 1958, a revista marxista Science and Society publicou a resenha de Henry Mins sobre os dois livros lançados no ano anterior.[1] Apesar de destacar o ineditismo das coletâneas, Mins não pode deixar de revelar seu desconforto com a maneira como haviam sido conduzidas. A ausência de fontes para indicar se o texto das notas era de Gramsci ou de seu comentador/tradutor, as traduções pouco fieis ao texto original (o que se evidenciava, de resto, pelas diferenças contrastantes entre as próprias edições anglófonas) e a ausência de qualquer explicação ou justificativa para as passagens traduzidas eram algumas das observações de Mins a respeito da “curiosa fórmula” de trabalho levada a cabo em ambas publicações (1958, p.284).
A resenha de Mins exibia, em grande contraste em relação aos comentários feitos por seus colegas ingleses, a clara preocupação com o melhor acesso possível ao texto de Gramsci como fonte para estudo e aprofundamento. Além de especialista no pensamento de Karl Marx, Mins era tradutor[2] e fazia parte Conselho Editorial da Science and Society ao lado de John Cammett que, no período 1950-1951, um ano estudando na Itália como bolsista Fulbright, quando teve contato com o PCI e as discussões sobre a publicação dos escritos gramscianos. É possível cogitar que, em alguma medida, as preocupações de Mins expostas na resenha de 1957 às traduções de Gramsci em inglês refletiam um contato prévio com as discussões editoriais do ambiente italiano.
De qualquer forma, é curioso pensar que esta resenha de Mins inaugurou no ambiente anglófono a preocupação que teria muito alcance ao redor das edições dos escritos de Gramsci nas décadas subsequentes, ciente que, fora o fato das edições temáticas serem construídas de maneira pouco rigorosa e obscura, as más traduções se convertiam em “obstáculos” complementares para a compreensão das ideias gramscianas[3] fora da Itália (Id., Ibid., p.285). Corretamente, em artigo retrospectivo, publicado em 1982, Geoff Eley denominou esta “primeira fase” da recepção de Gramsci nas culturas de língua inglesa de “ecumênica” e até certo ponto fragmentária, o que predominaria ainda na década seguinte, quando se tornaria referência para “renovação do marxismo” promovida pela geração de 1968 (Eley, 1982, p.28-29).
Nesta mesma época, em 1958, o crítico literário inglês Raymond Williams publicou Culture and Society (1780-1950), cujo “princípio organizativo” era investigar a ideia de cultura no pensamento nascida durante o período da revolução industrial na Inglaterra e seu desenvolvimento subsequente (Williams, 1958, p.v). Além disso, apresentou seu livro como parte de um ambiente no qual “parece que estamos chegando, a partir de muitos lugares, em um ponto em que uma nova teoria geral da cultura poderá de fato ser realizada” (Id., Ibid., p.vi). O elogio de Williams às polêmicas no interior do marxismo sobre o problema da cultura revelava, por um lado, sua confiança no avanço dos estudos sobre os fenômenos culturais neste campo, por outro, contribuiria para a crítica da política cultural “realista” soviética, aspecto marcante de sua discussão com o marxismo (Id., Ibid., p.302)..
Com esta motivação intelectual e política, Williams incluiu como penúltimo capítulo de Culture and Society uma discussão sobre a contribuição específica da tradição marxista para o tema da cultura. Ao recolher as raízes deste tema no pensamento de Karl Marx,[4] citou uma passagem do Prefácio de 1859 à Crítica da Economia Política aparece a ideia determinação “dos processos social, política e espiritual da vida” pelo modo de produção material da mesma (Id., Ibid., p. 284). Williams estava ciente de que a chave para pensar a contribuição do marxismo ao tem da cultura estava na interpretação do significado da “superestrutura” e de sua relação com a “estrutura” no pensamento de Marx (Id., Ibid., p.297-298).
Para Williams, o limite do desenvolvimento da teoria marxista na Inglaterra residia justamente na falta de aprofundamento da compreensão do eixo da relação entre determinação e vida concreta, ou daquilo que define a natureza da consciência e atividade das forças sociais que emergem em determinado momento (Id., Ibid., p. 299). Se, por um lado, continuava, a ênfase de Marx na relação entre organização econômica e preocupações morais e intelectuais já havia se convertido em pressuposto comum, era preciso agora aprofundar o impacto desta ideia no pensamento sobre a cultura. Ou, em outros termos, explicar em que medida o elemento econômico é determinante, estimar sua importância já que, na prática, este elemento “nunca aparece de maneira isolada” (Id., Ibid, p.299-300).
Williams fazia parte dos intelectuais em busca de “novos modelos” teóricos para pensar a cultura, o que foi impulsionado principalmente nos anos 1970 por novas traduções para o inglês dos livros de Georgy Lukács, Lucien Goldman e os intelectuais da Escola de Frankfurt, em especial Theodor Adorno, e de novas traduções dos escritos de Gramsci (Osborne; Segal., p. 26). Apesar disso, os anos 1960 são muito importantes para compreender a trajetória de Williams, e marcam o período em que este decidiu se afastar “do que eu conhecia como tradição marxista para desenvolver um tipo diferente de teoria da totalidade social” (Williams, 2011, p.28). Apesar de suas ambiguidades intelectuais este foi, sem dúvida, o momento-chave de seu afastamento em relação ao maxismo-leninismo difundido na URSS.
A publicação de The Long Revolution, em 1961, se deu em um contexto de colaboração crítica com intelectuais como Hall e Edward Thompson, e intensa elaboração teórica (Id., 1965, p.7). Este livro, planejado com bastante antecedência para ser o fim de um ciclo de estudos e pesquisas, deveria ser uma “continuação” de Culture and Society, mas Williams percebia, pelo volume de comentários e intensa discussão com amigos e colaboradores, que não se tratava apenas disto (Id., Ibid., p.9).
Embora os temas do livro (teoria da cultura, análises história de questões culturais, problemas relacionados ao significado e as ações culturais) fossem fieis ao plano original, Williams colocava toda ênfase de sua argumentação na ideia de uma “longa revolução”, vivida por meio da transformação institucional e dos indivíduos, a partir da combinação de três processos “desiguais” “complicados”: a revolução democrática, a revolução industrial e a revolução cultural (Id., Ibid., p.10-11,15). A elaboração de Williams consistia no esforço por oferecer nova roupagem à referência leninista (das diferentes de esferas luta: política, econômica e ideológica) e com isso construir ferramentas analíticas capazes de captar o elemento histórico e, principalmente, cultural das relações sociais.
Sem poder distinguir-se organicamente das revoluções econômica e democrática, “do conjunto da vida social”, a “profunda revolução cultural” poderia ser estudada nas suas dimensões “ideal” (como valores universais), “documental” (como trabalho imaginativo e intelectual) e “social” (uma forma particular de vida) (Id., Ibid., p.57). Interessa, aqui, a preocupação de Williams em definir esta última dimensão,, “que expressa certos significados e valores não apenas na arte e no aprendizado, mas nas instituições e no comportamento comum”, como parte da cultura (Id., Ibid., p.57). Em 1958, com Culture is ordinary, publicado na coletânea de artigos Conviction, organizada por Normam Mackenzie, esta ideia já havia sido esboçada.
Escrito em paralelo à elaboração de The Long Revolution, este artigo trazia sua ousadia estampada no título: “a cultura é ordinária”, um ponto de partida individual e uma experiência social. Por isso, é também sempre a combinação entre os sentidos conhecidos e para os quais os membros de uma sociedade são treinados, e as novas observações e sentidos que são oferecidos e testados. Williams criticava o que considerava uma “fórmula”, comum entre muitos marxistas e conservadores ingleses, que negava tanto a cultura na vida comum, como o aspecto comum da experiência cultural. Sem negar o que considerava como “ênfase marxista”, seu objetivo, aqui, era rejeitar o pressuposto que afastava a via popular do mundo cultural, para o que Williams sabia que era necessário uma “nova equação”, que pudesse funcionar como ferramentas para o estudo das relações entre a experiência social e o universo cultural.
Até este momento, não há traço dos escritos de Gramsci nos escritos de Williams.[5] Apesar disso, a afinidade eletiva das preocupações do crítico literário inglês com temas da reflexão gramsciana é notável. Anos mais tarde, Stuart Hall faria referência ao trabalho de Williams neste período destacando a apropriação das ideias de Gramsci pelos teóricos marxistas da cultura na Inglaterra como resultado de um encontro fortuito entre os problemas que estes já formulavam e os escritos do prisioneiro do fascismo (Osborne; Segal, 1997, p.26).
Neste clima e não por acaso, em 1960, Gwyn Williams recuperou em um artigo sobre a hegemonia no pensamento de Gramsci os temas tratados em Culture and Society. Apoiado na monografia de Stuart Hughes sobre este conceito, “a primeira síntese efetiva sobre o tema” e, trabalhando diretamente nas edições temáticas publicadas em italiano, o historiador galês afirmou a hegemonia como a novidade gramsciana responsável pela afirmação de uma tradição “comunista liberal” (Williams, 1960, p.586). Para Gwyn Williams, em Gramsci hegemonia poderia ser definida como “uma situação sócio-política, um momento para usar sua terminologia, no qual a filosofia e a prática de uma sociedade se fundem ou estão em equilíbrio” (Id., Ibid., p.587). O conceito explicaria, ao contrário do que propunha Togliatti com a ideia de “ideologias rivais de classes”, uma ordem na qual “certa forma de vida e pensamento” se torna dominante, não redutível portanto a uma “doutrina [leninista] da revolução” (Id., Ibid., p.587).
A intenção de Gwyn Williams era clara: deslocar a pesquisa sobre as ideias de Gramsci do campo marxista e comunista inglês. Por outro lado, seu esforço em incorporar ao debate inglês os termos italianos deste estudos, apresentando o debate de Gramsci com suas principais fontes – Benedetto Croce, Georges Sorel, Nicolau Bukharin – conferiu ao artigo um ar bastante original se comparado ao que era feito até então. Permitiu, por exemplo, a afirmação da hegemonia “ainda que concebida em termos marxistas, como um instrumento de renovação cultural”, que se expressa nas análises históricas de Gramsci sobre a Reforma Protestante e o papel do senso comum como “base de uma integração mais elevada” entre “iluminados” e “simples”, intelectuais e povo (Id., Ibid., p.593). Hegemonia escapava, neste caso, à “ortodoxia” marxista para converter-se em um conceito de uso imediato, um problema prático de pesquisa (Id., Ibid., p.595). O historiador concluiu com uma interessante aproximação:
“Esta é a qualidade que faz de Gramsci um escritor inesperadamente adequado para os leitores familiares com os a literatura britânica sobre as relações sociais e culturais (…). Certamente partir de Gramsci e chegar ao estudo clássico de Raymond Williams (…), Culture and Society, é experimentar uma peculiar sensação de contato e continuidade” (Id., Ibid., p.596).
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[1] Poucos meses antes, Christopher Hill publicou na revista marxista inglesa The New Reasoner uma resenha do volume traduzido por Louis Marks, onde reforçou a ideia – creditada a Palmiro Togliatti – de Gramsci como o “primeiro marxista italiano”, e o “grande marxista da Europa ocidental” desde Lenin (Hill, 1958, p.107). Nesta, são notáveis as distorções da tradução, como a que converte filosofia della práxis em filosofia da ação, ou que buscou substituir pelos nomes “Engels e Marx” todas as passagens nas quais Gramsci se referiu aos “fundadores da filosofia da práxis” (Id., Ibid., p.107). Na interpretação de Hill, o pensamento de Gramsci era interpretado uma antecipação da crítica do stalinismo e, assim, como “aplicação” intelectualmente responsável e superior do marxismo aos problemas históricos, culturais e políticos (Id., Ibid., p.110 e ss.).
[2] Em 1934, Mins publicou sua tese de doutorado, realizada na Faculdade de Filosofia da Universidade de Columbia, Materialism, The scientific bias, que “buscava examinar o materialismo como uma teoria do mundo” (Lucks, 1936, p.62). Em 1948, no “centenário do marxismo” promovido pela Science and Society, publicou um artigo sobre “a tese de doutorado de Marx”, em que discutia a conturbada relação deste com sua experiência acadêmica (Mins 1948, p. 157). O momento que antecede o contato de Mins com o texto de Gramsci, foi de muita investigação no interior cultura marxista. Ficaria conhecida sua tradução, em 1953 do alemão para o inglês, do importante Foundations of Christianity, de Karl Kautsky.
[3] John Cammett permaneceria dedicado ao tema dos estudos gramscianos desde então. Em 1967, publicaria o resultado de sua pesquisa de doutorado na Universidade de Columbia, Antonio Gramsci and the Origins of Italian Communism (Casey; Mislher, 2008). Participante ativo dos debates, publicações e da formação de gerações de pesquisadores gramscianos em Nova Iorque, Cammett seria um dos responsáveis, mais recentemente e pouco antes de sua morte, pela organização da importante Bibliografia Gramsciana, base de dados internacional para as traduções e publicação bibliográfica a respeito de Antonio Gramsci a partir dos anos 1920 (http://bg.fondazionegramsci.org/biblio-gramsci/accessioni).
[4] As referências e temas de Williams eram bastante comuns ao debate da época entre marxistas de tradição comunista. Além de Marx, citou neste capítulo Friedrich Engels e Georgi Plekhanov. Na segunda parte do capítulo, Williams demonstra justamente seu descontentamento com a “efemeridade” e curto alcance das discussões teóricas do marxismo inglês sobre o tema da cultura no período, o que impunha o retorno ao cânone.
[5] Até porque o trabalho que deu origem a Culture and Society foi concluído em 1956, antes portanto da aparição dos escritos de Gramsci em inglês (Williams, 1985, p.13). É provável que Williams tenha tomado contato com os escritos gramcianos logo em seguida, dadas duas conexões com o ambiente político comunista inglês e com a revista University and Left Review que, em 1957, anunciou a tradução do volume The Modern Prince. Williams também cita (embora criticamente) George Thomson em Culture and Society.
Referências bibliográficas
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Ilustracão D. Muste sobre gravura anônima